História de Florianópolis e da Renda de Bilro.
A formação socioespacial de Florianópolis e a atividade artesanal da Renda de Bilro.
Edson de Morais Machado[1]
RESUMO
Florianópolis, capital catarinense, tem sua formação sócioespacial atrelada à chegada dos europeus ao continente americano[2], desenvolvendo-se mais precisamente a partir do século XVI, quando embarcações que demandavam à Bacia do Prata (cuja desembocadura localiza-se no atual Paraguai) aportavam na Ilha de Santa Catarina para abastecerem-se de água e víveres. A cidade tornou-se território estratégico para apoiar a vanguarda portuguesa localizada no Prata, junto à colônia de Sacramento e assegurar, sob domínio português, o Brasil Meridional. Esta situação teve como consequência a necessidade de povoamento do referido território e dessa forma a consolidação do poder da Coroa Portuguesa. No último quarto do século XVI, a ilha começa efetivamente a ser povoada, recebendo fluxo de imigrantes vicentista e paulistas. Entretanto, em meados do século seguinte este fluxo migratório inicial regrediu, tendo permanecido na ilha pouco mais de uma centena de europeus. Posteriormente, a ilha de Florianópolis recebe um segundo fluxo migratório diferenciado, imprimindo um dinamismo socioeconômico e uma organização regional bastante peculiar. Assim, as reflexões aqui apresentadas contêm elementos para uma melhor compreensão da evolução histórica da formação sócioespacial de Florianópolis e região. Esse enfoque procura contemplar as múltiplas determinações de ordem natural, social, econômica e cultural, responsáveis pela singularidade dessa formação regional e que serão de fundamental importância para o desenvolvimento e a permanência de uma das mais tradicionais atividades artesanal da região, a renda de bilro.
PALAVRAS-CHAVES: SOCIOESPACIAL, FLORIANOPOLIS, RENDA DE BILRO.
INTRODUÇÃO
Na atual e singularmente duradoura fase depressiva da economia mundial, aberta com a chamada “Crise do Petróleo” em 1973, ocorreu surpreendentemente aprofundamento da divisão internacional do trabalho com ampliação dos fluxos de capitais e mercadorias entre as nações. Nesta nova conjuntura o capitalismo atingiu um novo estágio, tendo como consequência a difusão do consumo em massa, uniformizando a aquisição de mercadorias nos diferentes continentes.
Diante deste cenário, em diversas ocasiões, um conjunto de pessoas buscam um consumo diferente, mais individualizado, representando um nicho de mercado, que inseri ao consumo de mercadorias outras finalidades além do próprio ato de consumir, podendo ser sociais ou culturais. O principal exemplo deste nicho de mercado é a atividade artesanal, como é o caso da renda de bilro, atividade característica de Florianópolis (SC).
Cabe lembrar que o consumo se tornou essencial para o atual estilo de vida das pessoas, todavia em diversas situações o consumo também é realizado na busca de satisfação pessoal, onde o processo se dá assegurado pelas suas subjetividades privatizadas. Nesse meio, foi imposta a ideologia que considera a otimização do capital físico-econômico e do capital humano como solução para atingir a competitividade e a sustentabilidade. Esta ideologia traz como consequência a exclusão social, o aumento da desigualdade de renda e as dificuldades crescentes para os que não se enquadram no atual estágio do sistema capitalista. Essa distribuição desigual de renda acaba por dificultar o desenvolvimento econômico e humano, cabe então as políticas públicas criar e incentivar iniciativas que visam a melhoria de padrões de qualidade de vida.
O Brasil demonstrou-se ser um dos países que tem a maior desigualdade de renda do continente latino-americano e do mundo (Gasparini, 2003). Todavia, em anos recentes, particularmente a partir de 2001, o país consegue diminuir a desigualdade brasileira para os níveis mais baixos dos últimos quase quarenta anos, notadamente em 1976, quando as séries da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) puderam ser na prática processadas (Neri, 2005, 2006; Ferreira, Leite e Litchfield, 2006; e, mais detalhadamente, Ipea, 2006). Entretanto ainda ocupa lugar de destaque nos rankings das estatísticas internacionais de países com maiores desigualdades de renda.
A diminuição da desigualdade brasileira, em parte, é resultado de políticas sociais (como o lançamento do Programa Bolsa Família, reajustes do salário mínimo, entre outras) e de políticas públicas (como mudanças de regime macroeconômico: controle e metas inflacionárias, responsabilidade fiscal, etc.). Considerando esse fator, em 2004 o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior lançou o Programa do Artesanato Brasileiro, entendendo que: “o artesanato brasileiro é um segmento da economia cujo crescimento possui alto potencial de geração de trabalho e renda, de maneira descentralizada” (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, 2004, p. 25). De acordo com o programa a comercialização do produto artesanal (o que engloba o manejo da matéria-prima, a produção, a divulgação e a comercialização tanto na importação quanto na exportação) exige ações governamentais, considerando que o artesanato, além da contribuição para geração ou complementação de renda, também preserva as culturas locais, regionais e nacionais. Essas ações governamentais devem ter como objetivo final um aumento do nível de bem-estar social que depende, objetiva e subjetivamente, da redução da desigualdade social e uma consequente estabilidade econômica.
Diante da realidade acima exposta torna-se necessário analisar a origem, desenvolvimento e permanência de uma das atividades artesanais mais características de Florianópolis (SC), que é a renda de bilro, na qual foi, e ainda é responsável pela geração de dividendos de diversas famílias florianopolitanas, para que então possa se chegar a uma compreensão mais ampla da realidade na qual esta atividade está inserida. Considerando a geografia como uma ciência social, cujo objetivo é estudar a sociedade, sendo ela espacial, o objetivo deste artigo é apresentar uma abordagem sobre a trajetória e a conseqüente formação social e espacial do território na qual se desenvolveu a referida atividade, buscando descrever os fatores econômicos, sociais e naturais que influenciaram a prática de renda de bilro nos diferentes momentos históricos da capital catarinense.
A metodologia engloba pesquisa etnográfica, além de uma revisão da bibliografia disponível sobre o tema. Foi realizada também coleta de dados através de observação participante, sendo que as declarações das mulheres rendeiras foram tidas como evidências sobre o acontecimento, baseando-se assim na credibilidade dos informantes. Tanto declarações dirigidas, quanto espontâneas foram tomadas como observações da pesquisa, tal como orienta Becker (1997) [3]. Esta coleta de dados foi sendo realizada ao longo do processo de capacitação das rendeiras de bilro propiciado pelo Projeto Ilha Rendada[4] com mais de cem mulheres, no qual atuei como tutor, e que ocorreu nos fins de 2014 até meados de 2015 em quatro pólos de comunidades distintas de Florianópolis: Pântano do Sul, Lagoa da Conceição e Rio Vermelho, Ponta das Canas e Sambaqui.
1. A formação social e espacial da capital catarinense
A ocupação do território brasileiro efetivou-se com a implantação do sistema de Capitanias Hereditárias e doação de sesmarias. Esta política rendeu ao Brasil vastos latifúndios voltados à produção de produtos tropicais para exportação visando abastecer o mercado europeu (PEREIRA, R. M, 2011, p.14.). As características singulares da população nativa da América exigiram que internamente se estruturasse relações escravistas de produção. Assim, de uma forma geral, a implantação dos latifúndios e as relações escravistas na região tropical brasileira impossibilitou a transformação dos trabalhadores em produtores independentes. Hora, o Sul do Brasil, sendo região temperada e não podendo oferecer em grandes quantidades produtos diferentes do que se podia desenvolver na região temperada da Europa, despertou pouco interesse econômico e de exploração[5]. Pereira (2011) comenta que o atraso e a desvinculação do circuito comercial de interesse das áreas temperadas europeias foram decisivos para impor um caráter distinto à formação sócioespacial do sul do Brasil, e consequentemente de Florianópolis.
O Sul do Brasil tem sua gênese sócioespacial intrinsecamente ligada à preocupação de Portugal em fixar as fronteiras meridionais do território colonial, ameaçadas constantemente pela coroa Espanhola. As primeiras providências tomadas pela coroa foi incentivar o avanço de uma parcela dos habitantes da capitania de São Vicente a moverem-se rumo ao sul. A concretização destes incentivos irão dar origem as sesmarias e consequentemente ás primeiras fazendas de lavouras ao longo do litoral sul do Brasil. Esta primeira etapa da formação do território sulino vai se caracterizar por um povoamento esparso e de baixa densidade demográfica. É neste contexto que serão fundada as cidades de São Francisco (1658), Desterro[6] (1673) e Laguna (1676). Percebe-se que as cidades vão sendo fundadas em uma constante linha de tempo, consolidando a expansão portuguesa cada vez mais ao sul do continente, a tal ponto que em 1680, com a fundação da Colônia do Sacramento na foz do rio Prata e muito além do tratado de Tordesilhas, Portugal alcança seu objetivo final, demarcando território na estratégica região e agravando com isto, as disputas territoriais entre o referido país e a coroa espanhola.
Neste permanente estado de guerra territorial entre Espanha e Portugal, a cidade de Florianópolis vai ganhar destaque em consequência de suas especificidades naturais e geográficas. Assim, sendo considerada estratégica para fins já descritos, a atual ilha de Florianópolis tornou-se alvo de claro objetivo político com a efetiva ocupação de seu território. Tal fato não havia sido concretizado, pois a primeira leva de imigrantes vicentista era reduzida em número e esparsa ao longo do litoral. Tinha-se como prioridade também a criação de um sistema de defesa.
A partir de meados do século XVIII se iniciou um efetivo planejamento sistemático sócioespacial do território de Florianópolis e suas redondezas. A exemplo, tem-se a construção das fortificações em pontos estratégicos, tanto na parte insular como na parte continental. Todavia, aliada às construções das fortificações que serviam de apoio logístico e militar do Brasil Meridional, tornou-se necessário um contingente populacional que as guarnecesse e ocupasse seu entorno, além de cultivar a terra, considerada naturalmente fértil, com abundancia de peixes e outros viveres, propiciando alimento e utensílios necessários, sem gerar grandes despesas à empreitada portuguesa. Segundo Mamigonian (1997), a realização destas duas necessidades constitui-se a maior intervenção do planejamento estatal português no sul do Brasil, tanto a nível geopolítico, como a nível geoeconômico.
São os fatores acima expostos que irão explicar um segundo fluxo migratório intensivo e precoce, perante o restante do território brasileiro, para a referida região, abrangendo ainda partes do litoral catarinense e do estado do Rio Grande do Sul. Este segundo fluxo migratório eram oriundos do Arquipélago do Açores, tendo este último função semelhante a que iria se tornar Florianópolis. Açores, um arquipélago em pleno oceano Atlântico[7], com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, passa a ser ponto de paragem obrigatória das naus que faziam a viagem de regresso. Este acontecimento confere ás ilhas do arquipélago uma grande importância estratégica, contribuindo em larga escala para seu desenvolvimento social e econômico (CARUSO, 2000, p.100). Caso semelhante aplicava-se a ilha de Santa Catarina, que apoiava a ocupação do Paraguai, Buenos Aires, Colônia de Sacramento e a passagem para o Oceano Pacífico através do Estreito de Magalhães.
Assim sendo, considerando as especificidades existente no Arquipélago dos Açores (também sob domínio português), como excesso de contingente e as necessidade de povoamento do Brasil Meridional, se tem inicio no ano de 1748 a imigração açoriana para a ilha de Santa Catarina. Durante os oito anos seguintes, seis mil imigrantes açorianos foram enviados ao sul do Brasil.
Esse movimento migratório vai consolidar uma das sociedades mais originais do Brasil pois, em vez do latifúndio implanta-se a pequena propriedade; no lugar do escravo africano é trazido o colono branco e, finalmente, ao contrário de uma agricultura tropical de exportação, os imigrantes açorianos vão desenvolver uma variada economia familiar de subsistência (CARUSO, 2000, p.102). Estas especificidades vão resultar na proliferação de algumas tradições trazidas pelos açorianos pois, em vez de trabalhar em grande plantações voltadas a exportação, o colono irá se dedicar a uma agricultura de subsistência, possibilitando realizar novas empreitadas, como a utilização de novos métodos de pesca (a rede de arrasto e a tarrafa) para os homens e a confecção de peças artesanais para as mulheres. Entre as peças artesanais desenvolvidas pelas mulheres se destacou a renda de Bilro, sendo utilizada para a confecção de toalhas de mesa, cortinas, lençóis, peças de vestuário, além da possibilidade de enfeitar trajes, alfaias da igreja e peças do vestuário da nobreza. Posteriormente, durante séculos, a confecção da renda de Bilro seria utilizada para reforçar o orçamento familiar. Esta tradição, segundo alguns pesquisadores, surgiu na Bélgica, no século XV, espalhando-se pela Europa (essencialmente Itália, França e Portugal), tendo alcançado o arquipélago dos Açores e incorporando-se a cultura local. Assim, com a transferência de uma parcela desta população à ilha de Santa Catarina, a referida tradição veio ganhar uma nova conjuntura.
Distante de mercados dinâmicos, a região onde se estabeleceram os açorianos só realizou a comercialização de pequenos excedentes de produtos de fabricação rudimentar como a farinha, a aguardente, o peixe e o artesanato, sendo estes vendidos ou trocados nos mercados da região. O fato de Florianópolis servir como apoio logístico aumentava o trânsito de navios e impulsionava o desenvolvimento de uma pequena produção mercantil.
Aliado aos interesses geopolíticos portugueses, outro fato veio impulsionar o desenvolvimento socioeconômico da ilha de Santa Catarina, sendo o estabelecimento de diversas “armações[8]” para a pesca da baleia e a exportação do óleo desses animais para a Europa (Inglaterra, Holanda, Alemanha, etc.). Esta atividade tornou-se uma alternativa lucrativa no Brasil Meridional, área de recursos ociosos.
Embora de vários ângulos tenha prosperado a empreitada portuguesa no Brasil Meridional, não se podia comparar com a opulência apresentada nas Capitanias mais próspera. As exigências impostas aos açorianos pela coroa portuguesa limitava as possibilidades de acumulação, e consequentemente impossibilitou-os de se tornarem empresários capitalistas. Entre estas exigências pode-se citar as constantes requisições, sobretudo de soldados e de farinha, advindas das milícias e dos setores administrativos (PEREIRA, R. M, 2011). Estas especificidades, embora os açoriano tenham desenvolvido uma pequena produção mercantil, não permitiram o desenvolvimento de relações capitalista, permanecendo por longos anos, nas áreas de colonização açoriana, incluindo a ilha de Santa Catarina, relações pré-capitalistas. Assim, percebe-se que uma série de fatores ocorreram para que a região de colonização açoriano não enriquecesse, ao contrário, a partir do século XIX há um empobrecimento na região. Além dos fatores já descritos que dificultavam uma acumulação de riquezas e o desenvolvimento das relações capitalista, pode-se acrescentar outros elementos característicos da formação sócioespacial açoriana, tais como, a fragmentação excessiva dos pequenos lotes por herança, a redução da mão de obra produtiva provocada pelo recrutamento dos açorianos para as milícias, o esgotamento do solo arenosos, assim como o espírito de camaradagem vigente entre os agricultores, pescadores e artesãos (BASTOS, 2000, p.131).
A partir de segunda década do século XIX e perdurando até o século XX, o interior do sul do Brasil passa a ser o foco de atenção, recebendo imigrantes europeus (alemães, italianos e eslavos, em sua maior parcela) que imprimiram grande dinamismo econômico, superando rapidamente o estágio agrícola e chegando a industrialização. Fato que não ocorreu nas áreas de colonização açoriana em conseqüência de diversas especificidades, entre elas o reduzido desenvolvimento técnico – cientifico dos açorianos ao migrarem para o Brasil (séc. XVIII), contrastando com o avançado estágio do capitalismo manufatureiro engendrado nos países europeus de origem dos imigrantes que foram se instalar no interior do estado (Alemanha, Itália, Polônia, etc.). O desenvolvimento econômico do interior fez com que a capital catarinense permanecesse com a função comercial de praça importadora e intimamente ligada as atividades portuárias até meados dos anos 30. Este período é marcado por uma decadência econômica que só será superado após a Revolução de 1930, onde os estímulos a industrialização permitiu a superação das relações pré-capitalista de produção, fato que irá resultar em uma nova ordem socioeconômica e espacial.
Este breve resumo nos fornece a base para entender as características únicas na qual se deu o desenvolvimento, a permanência e a atual conjuntura da atividade artesanal da renda de bilro em Florianópolis. Ou seja, as imposições na qual estiveram submetidos os imigrantes açorianos caracterizou em uma vivência de subsistência, mantendo-se por um longo período relações pré-capitalista. Desvinculados de grandes mercados e fora da área de produção para exportação de produtos tropicais, aliada a série de imposições oriundas da coroa portuguesa, as relações pré-capitalistas e de subsistência permitiram o desenvolvimento e a permanência de diversas atividades artesanais como forma de complementação de renda e fonte de alimentos. Entre os homens está a pesca através da rede de arrasto e a tarrafa, e entre as mulheres a renda de bilro.
Estas duas atividades, tanto a masculina como a feminina, vão se desenvolver em um grande espírito de camaradagem ao longo das comunidades mais tradicionais da ilha (Lagoa da Conceição, Pântano do Sul, Ponta das Canas, Sambaqui, etc.). Assim, a união dos homens para poder realizar a pesca da rede de arrasto, as confecções das tarrafas e das redes por longo período de tempo, possibilitava a reunião de suas mulheres e filhas em grandes círculos onde passavam longos períodos confeccionando as rendas de Bilros, fato que dará origem a uma das frases mais características da ilha da respectiva atividade artesanal “onde há rede, há renda!”. Esta tradição, que se perpetuou ao longo das gerações, vai dar origem a um importante Capital Social presente ainda hoje.
Com a variada utilidade da arte artesanal da renda de bilro como já descrito, e em consequência das imposições por parte da coroa portuguesa na qual os açorianos estavam submetidos, esta atividade se caracterizou como uma fonte de complementação de renda, sendo ainda utilizada de instrumento de troca por itens de maior necessidade.
O fato de Florianópolis estar intimamente ligada a atividade portuária desde sua gênese, permanecendo como a grande praça importadora do estado até a década de 30 do século passado através da atividade marítima, possibilitou o desenvolvimento e a permanência de relações comerciais em especial no centro da cidade. Ao longo das ruas do centro da cidade e posteriormente, no próprio mercado público, era possível encontrar uma gama de produtos que iam desde pescados, farinha de mandioca, frutas, etc. e até mesmo a renda de bilro. A antiga ASSORI (Associação das Rendeiras), localizada na cabeceira da Ponte Hercílio Luz, a partir de meados do século passado era onde possivelmente se encontrava a maior oferta de produtos oriundos da renda de bilro de toda a cidade de Florianópolis.
Como a atividade artesanal da renda de bilro desenvolveu-se em especial nas regiões mais tradicionais de Florianópolis, estrategicamente imposta pela coroa portuguesa, e consequentemente esparsas entre si, ficando distante da grande praça comercial da cidade e do estado, as dificuldades de disponibilizar as rendas no mercado se tornou um dos maiores empecilhos. Neste meio, o espirito de camaradagem característico do açoriano, e as dificuldades de comercialização da renda de bilro vai dar espaço a uma não valorização do produto confeccionado. Desvalorização esta acentuada pelos novos costumes e imposições do estilo de vida da atual geração (como a necessidade de maior praticidade).
Diante da conjuntura acima exposta, algumas soluções se materializam, entre elas o papel das “compradeiras”, onde alguém tomava a liderança comprando as rendas e revendendo no comércio do centro da cidade. Esta atitude possibilitou a permanência de tal arte mantendo-a como importante complemento da renda familiar (praticado muitas vezes por todas as mulheres de uma mesma família, incluindo crianças a partir dos sete, oito anos de idade), pois os poucos recursos disponíveis aos imigrantes açorianos e as escassas inovações tecnológicas, não permitiram o desenvolvimento de atividades muito distintas além da pesca e da renda.
Como já mencionado, em deprimento da riqueza produzida no interior, Florianópolis fica reduzida a função administrativa de capital, entrando num período de decadência que perdura até meados do século XX. Após este período, com os estímulos a industrialização aceleram-se o processo de substituição de relações pré-capitalista de produção, o que acaba por impor uma nova ordem socioeconômica e espacial, onde os diferentes lugares e regiões irão reagir de forma contraditórias, alguns aderindo e se adaptando rapidamente a nova conjuntura, outros resistindo. Nesta processo Florianópolis irá passar por profundas transformações, evidenciando-se a vocação turística da cidade (sendo implantados diversos hotéis, pousadas, resort, etc. em toda a cidade) por um lado, e aderindo importantes projetos de desenvolvimento cientifico, tecnológico e econômico (construção da Universidade Federal de Santa Catarina, sendo a sede de empresas como a CELESC, ELETROBRÀS, TELESC, etc.) por outro. O que vai implicar na expansão urbana da cidade. Tais ações irão ter como consequência uma grande transição econômica e social, vivenciada pelas populações do interior da ilha, que se caracterizou pela desarticulação das formas tradicionais de produção, pressionando e ao mesmo tempo possibilitando a obtenção de ingressos que aumentassem a renda familiar.
As modificações introduzidas na ilha de Santa Catarina, em especial por ocasião do turismo, vai possibilitar que a mulher atenda a pressão para o aumento da renda familiar, neste contexto a renda de bilro acaba por ganhar destaque. Este fato deve-se a algumas especificidades, entre elas o fato da artesã produtora de renda de bilro (bem como os artesões em geral) serem donas dos meios de produção e por diversas vezes, a rendeira que produzia os próprios instrumentos de trabalho (confecciona a almofada de apoio, os piques[9], os bilros, e por vezes a coleta de espinhos na falta de alfinetes). Cabe lembrar que a maior acessibilidade às mercadorias e o aumento da divisão do trabalho vem aos poucos suprimindo esta última característica dos artesãos. Assim, sendo dona dos meios de produção era possível estender a atividade para outros membros da família, em geral meninas a partir dos seis, sete anos de idade. O que possibilitava a reprodução social da família e o complemento de dividendos. Surgem neste período (meados do século passado) importantes centros de vendas, como a Avenida de Rendeiras na Lagoa da Conceição, além da implantação de pontos de venda de renda de bilro nas praias mais movimentadas de Florianópolis. Neste cenário, o papel da “compradeiras” irá se acentuar. Todavia os mesmos fatores que irão possibilitar um determinado incentivo à produção de renda de bilro, também será o responsável por fazê-la quase que desaparecer, não sendo atrativo para as novas gerações que acabam por mostrar pouco ou nenhum interesse em aprender tal arte.
O fato acima referido é uma consequência do gradativo assalariamento que passa a ocorrer em Florianópolis. O turismo e a expansão urbana criaram diferentes possibilidades que permitiam as mulheres se engajassem em atividades relacionadas a hotelaria (camareira, restaurante, serviços de cozinha, lavanderia, serviços de limpeza em geral) ou em casas de veraneio. Assim o verão se tornou a estação em que uma parte das mulheres estende suas atividades para fora de casa, recebendo um salário, em geral, superior ao mínimo e maior do que o adquirido com a venda da renda de bilro. Diante disto a referida atividade foi aos poucos sendo abandona pela maior parcela das mulheres, tendo seguido o mesmo caminho suas filhas e netas. Fora da estação algumas outras tarefas podiam e podem permitir um pequeno salário bem abaixo do salário mínimo: cuidar de casas fechadas, limpar quintais, lavação de roupas são algumas das tarefas subassalariadas que podem garantir uma contribuição a renda familiar (BECK, et all, 1983).
Em resumo a desarticulação das atividades tradicionais com a migração dos homens para outras atividades, onde muitos saem da pesca artesanal e começam a trabalhar como pedreiros, carpinteiros, jardineiros, pesca industrial, etc. aliada a diminuição gradativa das “terras de uso comum” [10], consequência da expansão urbana, obriga a mulher a aumentar sua participação na economia da família. Em um primeiro momento a renda de bilro vai ser vista como a saída para tal solução, todavia com o passar dos anos o processo de expansão urbana, passou a incorporar o contingente feminino da força de trabalho que, até então, teria permanecido fora do mercado. A referida pressão para o aumento nos dividendos familiar vai ocasionar em um baixo preço e a consequente diminuição do lucro da renda de bilro em relação à matéria-prima e a hora trabalho. Diante deste cenário e a perante a possibilidade de ganhos maiores e mais garantidos com o assalariamento a renda de bilro vai sendo deixada de lado.
Não se pode esquecer também o papel da educação escolar, onde uma maior acessibilidade ao ensino e um crescente mercado de trabalho (que passa a incorporar o contingente feminino) faz com que as rendeiras incentivem suas filhas a possuírem uma maior escolaridade[11] e se dedicar maior tempo aos estudos para então conseguir um emprego, ao invés de produzir renda de bilro. A exemplo disto se tem o fato que as rendeiras que hoje atuam em Florianópolis estão na terceira idade e a grande maioria possui escolaridade equivalente ao ensino fundamental I (1ª à 4ª série), incluindo um menor número de rendeiras não alfabetizadas, enquanto que suas filhas e netas possuem ensino médio ou ensino superior.
A renda de bilro, tendo se transformado em um mero instrumento de aumento de dividendos em consequência da pressão para o complemento da economia familiar, fez com que se transmitisse algo negativo no ato de produzir, e não uma atividade prazerosa e de lazer como tem se buscado enfatizar nesta nova geração. As meninas que não se dedicavam a produção da renda de bilro eram marginalizadas na sociedade contrariando os padrões adequados à conduta feminina da época. A menina que não fazia renda de bilro não contribuía com o orçamento familiar e não era considerada dedicada ou “trabalhadeira”, ficando desocupada e indo brincar fora de casa, andando pelas ruas, brincando com os meninos, etc. era considerada “assanhada”. O comum era horas de dedicação à atividade já desde criança, sendo impostos ainda, em algumas ocasiões, castigos físicos[12]. Diante deste cenário as próprias rendeiras vão incentivar as suas filhas a dedicar-se a um trabalho assalariado, bem como suas netas. O processo de expansão urbana passa a aderir esta mão de obra, a renda de bilro deixa de ser um importante complemento de dividendos familiar. As longas jornadas de trabalho fora de casa impossibilitam a mulher dedicar-se a atividade rendeira e também transmitir este conhecimento às suas filhas, pois esta muita das vezes assume o papel da mãe nos afazeres domésticos aliado ao compromisso com as atividades escolares.
2. A atual conjuntura da prática da renda de bilro
A renda de bilro aos fins do século passado e inicio deste vai praticamente desaparecer do contexto dos ilhéus. Entretanto, as antigas rendeiras ao atingirem a terceira idade, e em sua maior parcela já aposentadas, acabam por redescobrir a renda de bilro como uma atividade de lazer, capaz de resgatar o companheirismo e a amizade característico dos açorianos. As longas tardes que ficavam a rendar e a conversar em circulo voltam a acontecer, resgatando sua autoestima e auxiliando no tratamento de doenças como a depressão. Cabe salientar que algumas dessas atuais rendeiras nunca pararam de produzir, outras acabaram por engajar-se no mercado de trabalho (doméstica, enfermeiras, auxiliar de serviços gerais, camareiras, etc) e ao aposentar-se voltam a praticar a atividade artesanal. Esta redescoberta vai encontrar apoio em algumas politicas publicas e em alguns locais que se tornam pontos de encontros (como o Casarão do Sambaqui, a Casa das Rendeiras no Pântano do Sul, o Casarão da Lagoa, a Associação dos idosos em Ponta das Canas, etc.). Todavia, no referido estágio da vida, uma nova realidade insere-se na vida das mulheres rendeiras. Apesar de aposentadas a maior parcela destas possui renda familiar em torno de um salário mínimo e, em não raro casos, elas se tornam responsáveis pela educação e sustentos dos netos e mesmo alguns filhos (estão desempregados, são estudantes, etc.), possuindo através de suas aposentadorias a única renda fixa. Isto num período da vida onde os gastos com saúde tendem a consumir a maior parcela do orçamento familiar[13]. Assim em diversos casos muitas dessas mulheres são pressionadas a buscar alternativas para aumentar o orçamento doméstico.
Nesta conjuntura a atividade artesanal da renda de bilro novamente passa a ser vista com um segmento da economia que possui um alto potencial de geração de trabalho e dividendos, de maneira descentralizada e conforme a disponibilidade de cada rendeira, e que também preserva a cultura local. Todavia as longas décadas de desvalorização do produto, a redução de custos através da mecanização e barateamento da mão de obra tão característico do sistema capitalista e que acaba por inibir o pequeno produtor, o consumo em massa, o neoliberalismo vivenciado a partir da década de 90 e que desencadeou as importações predatórias (introdução de rendas industriais importadas no mercado brasileiro com preços muito inferiores), entre outras diversas especificidades das rendeiras hoje existentes em Florianópolis, acabam por impor grandes dificuldades à comercialização deste produto. Quando acontece, de uma forma geral, esta comercialização é incapaz de oferecer lucros suficientes para a manutenção social da família dessas mulheres, o que acaba por inibir o interesse da nova geração pela atividade.
Para que se consiga uma melhorara no nível de bem-estar social dessas mulheres rendeiras, através da redução da desigualdade social e uma consequente estabilidade econômica, capaz inclusive de incentivar a nova geração a aprender e preservar esta importante cultura local é necessário ações governamentais e programas de auxílio e orientação (como o Programa do Artesanato Brasileiro lançado em 2004 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio). Estas ações devem ter como objetivo o incentivo e a capacitação dessas mulheres rendeiras, bem como suas filhas e netas, a se tornarem empreendedoras individuais capazes de se autogerir, ao mesmo tempo em que busquem alternativas mais justas para a comercialização de seus produtos.
3.Considerações finais
Na primeira parte do artigo buscou-se contextualizar a formação sócioespacial de Florianópolis com a origem, o desenvolvimento e a permanência da arte da renda de bilro. Assim foi possível perceber que considerando as necessidades de povoamento do Brasil Meridional se tem inicio no ano de 1748 a imigração açoriana para a ilha de Santa Catarina. Durante os oito anos seguintes, seis mil imigrantes açorianos foram enviados ao sul do Brasil. Esse movimento migratório vai consolidar uma das sociedades mais originais do Brasil pois, a ocupação do território vai se dar baseado em minifúndios, e por ser uma zona subtropical não ocorrerá agricultura intensiva direcionada a exportação, como ocorreu com a região tropical do país, dedicando-se o imigrante açoriano a uma agricultura inicial de subsistência. Estas especificidades vão resultar na proliferação de algumas tradições trazidas pelos açorianos, pois, em vez de trabalhar em grande plantações voltadas a exportação, o colono irá se dedicar a uma agricultura de subsistência, possibilitando realizar novas empreitadas, como a utilização de novos métodos de pesca (a rede de arrasto e a tarrafa) para os homens e a confecção de peças artesanais para as mulheres. Entre as peças artesanais desenvolvidas pelas mulheres se destacou a renda de Bilro, sendo utilizada para a confecção de toalhas de mesa, cortinas, lençóis, peças de vestuário, além da possibilidade de enfeitar trajes, alfaias da igreja e peças do vestuário da nobreza. Posteriormente, durante séculos, a confecção da renda de Bilro seria utilizada para reforçar o orçamento familiar.
As exigências impostas aos açorianos pela coroa portuguesa limitava as possibilidades de acumulação, e consequentemente impossibilitou-os de se tornarem empresários capitalistas. Entre estas exigências pode-se citar as constantes requisições, sobretudo de soldados e de farinha, advindas das milícias e dos setores administrativos. Desvinculados de grandes mercados e fora da área de produção para exportação de produtos tropicais, aliada a série de imposições oriundas da coroa portuguesa, as relações pré-capitalistas e de subsistência permitiram o desenvolvimento e a permanência de diversas atividades artesanais como forma de complementação de renda e fonte de alimentos. Entre os homens está a pesca através da rede de arrasto e a tarrafa, e entre as mulheres a renda de bilro. Estas duas atividades, tanto a masculina como a feminina, vão se desenvolver em um grande espírito de camaradagem ao longo das comunidades mais tradicionais da ilha (Lagoa da Conceição, Pântano do Sul, Ponta das Canas, Sambaqui, etc.). Assim, a união dos homens para poder realizar a pesca da rede de arrasto, as confecções das tarrafas e das redes por longo período de tempo, possibilitava a reunião de suas mulheres e filhas em grandes círculos onde passavam longos períodos confeccionando as rendas de Bilros, fato que dará origem a uma das frases mais características da ilha da respectiva atividade artesanal “onde há rede, há renda!”. Esta tradição, que se perpetuou ao longo das gerações, vai dar origem a um importante Capital Social presente ainda hoje.
As modificações introduzidas na ilha de Santa Catarina, em especial por ocasião do turismo, a partir de meado do século passado, vai possibilitar que a mulher atenda a pressão para o aumento da renda familiar, neste contexto a renda de bilro acaba por ganhar destaque. Assim, sendo dona dos meios de produção era possível estender a atividade para outros membros da família, em geral meninas a partir dos seis, sete anos de idade. O que possibilitava a reprodução social da família e o complemento de dividendos. Surgem neste período importantes centros de vendas, como a Avenida de Rendeiras na Lagoa da Conceição, além da implantação de pontos de venda de renda de bilro nas praias mais movimentadas de Florianópolis. Todavia os mesmos fatores que irão possibilitar um determinado incentivo à produção de renda de bilro, também será o responsável por fazê-la quase que desaparecer, não sendo atrativo para as novas gerações que acabam por mostrar pouco ou nenhum interesse em aprender tal a arte. Inicia-se na capital catarinense um gradativo assalariamento. O turismo e a expansão urbana criaram diferentes possibilidades que permitiam as mulheres se engajassem em atividades relacionadas a hotelaria (camareira, restaurante, serviços de cozinha, lavanderia, serviços de limpeza em geral) ou em casas de veraneio. Diante disto a referida atividade foi aos poucos sendo abandona pela maior parcela das mulheres, tendo seguido o mesmo caminho suas filhas e netas. A desarticulação das atividades tradicionais com a migração dos homens para outras atividades, obriga a mulher a aumentar sua participação na economia da família. Em um primeiro momento a renda de bilro vai ser vista como a saída para tal solução, todavia com o passar dos anos o processo de expansão urbana, passou a incorporar o contingente feminino da força de trabalho que, até então, teria permanecido fora do mercado. A referida pressão para o aumento nos dividendos familiar vai ocasionar em um baixo preço e a consequente diminuição do lucro da renda de bilro em relação à matéria-prima e a hora trabalho. Diante deste cenário e a perante a possibilidade de ganhos maiores e mais garantidos com o assalariamento a renda de bilro vai sendo deixada de lado. Todavia as antigas rendeiras ao atingirem a terceira idade, e em sua maior parcela já aposentadas, acabam por redescobrir a renda de bilro como uma atividade de lazer, capaz de resgatar o companheirismo e a amizade característico dos açorianos. As longas tardes que ficavam a rendar e a conversar em circulo voltam a acontecer, resgatando sua autoestima e auxiliando no tratamento de doenças como a depressão. Esta redescoberta vai encontrar apoio em algumas políticas publicas e em alguns locais que se tornam pontos de encontros (como o Casarão do Sambaqui, a Casa das Rendeiras no Pântano do Sul, o Casarão da Lagoa, a Associação dos idosos em Ponta das Canas, etc.). Entretanto, no referido estágio da vida, uma nova realidade insere-se na vida das mulheres rendeiras. Apesar de aposentadas a maior parcela destas possui renda familiar em torno de um salário mínimo e, em não raro casos, elas se tornam responsáveis pela educação e sustentos dos netos e mesmo alguns filhos, possuindo através de suas aposentadorias a única renda fixa. Isto num período da vida onde os gastos com saúde tendem a consumir a maior parcela do orçamento familiar. Assim em diversos casos muitas dessas mulheres são pressionadas a buscar alternativas para aumentar o orçamento doméstico. Nesta conjuntura a atividade artesanal da renda de bilro novamente passa a ser vista com um segmento da economia que possui um alto potencial de geração de trabalho e dividendos. Todavia as longas décadas de desvalorização do produto e as novas imposições do mercado torna a atividade incapaz de oferecer lucros suficientes para a manutenção social da família dessas mulheres, o que acaba por inibir o interesse da nova geração pela atividade.
Para que se consiga uma melhorara no nível de bem-estar social dessas mulheres rendeiras, através da redução da desigualdade social e uma consequente estabilidade econômica, capaz inclusive de incentivar a nova geração a aprender e preservar esta importante cultura local é necessário ações governamentais e programas de auxílio e orientação. Estas políticas públicas devem ter como objetivo o incentivo e a capacitação dessas mulheres rendeiras, bem como suas filhas e netas, a se tornarem empreendedoras individuais capazes de se autogerir, ao mesmo tempo em que busquem alternativas mais justas para a comercialização de seus produtos.
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[1] Mestrando do Programa de Pós-Graduação (PPGEO) da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: edsonmachado1988@hotmail.com.
[2] Embora os primeiros habitantes da região de Florianópolis tenham sido os índios tupis-guaranis, estes viviam pelo território de forma pouco organizada, dispersos de forma esparsa, desempenhando atividades extremamente primitivas, que não iam além do essencial para a própria sobrevivência.
[3] BECKER; Howard. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Hucitec, 3ª ed. 1997.
[4] O projeto Ilha Rendada, apoiado pela Fundação de Pesquisas Socioeconômicas (FEPESE) e financiado pela PETROBRAS, tem como objetivo qualificar rendeiras, suas filhas e netas para o empreendedorismo e promoção do comércio justo (fair trade) de renda de bilro na capital catarinense, atuando na linha programática de geração de dividendos e sustentabilidade. É coordenado pelas professoras Joana Stelzer e Marilda Todescat, ambas professoras do curso de Administração da Universidade Federal de Santa Catarina.
[5] Não se pode desconsiderar alguns fatos que auxiliaram neste processo inicial de pouco interesse pela região temperada do Brasil, entre eles o pouco desenvolvimento da Capitania de São Vicente em consequência de diversos fatores, a exemplo a baixa população, e que passou a desenvolver uma economia natural de subsistência, e o desaparecimento do donatário do capitania mais ao sul do Brasil em um naufrágio antes mesmo de tomar posse do referido território.
[6] Atual Florianópolis.
[7] Localiza-se especificamente a 1.500 km de Lisboa – Portugal.
[8] Eram empresas que mobilizavam grandes capitais, empregando numerosa mão de obra escrava.
[9] Piques são os desenhos que servem como base para a fabricação da renda de bilro.
[10] As “terras de uso comum” eram locais “sem donos” onde a população como um todo podia praticar a pecuária, todavia com a expansão urbana e imobiliária estes lotes foram aos poucos sendo comprados e cercados, impedindo o uso por parte da população.
[11] O que é apoiado com as novas instituições de ensino que passaram a se instalar em Florianópolis e região (Universidade Federal, Universidade Estadual, Institutos federais, Cursos técnicos, etc.).
[12] BECK et all (1983) comenta que o castigo mais comum era o bater com um régua nas articulações dos dedos.
[13] Segundo o Indicador de Educação Financeira (IndEF) 2014, elaborado pelo SerasaConsumidor e IBOPE Inteligência. Disponível em: http://noticias.serasaexperian.com.br. Acesso em 15 de julho de 2015.