História
Tendo o apoio da Secretaria da Cultura (SECULT) da Universidade Federal de Santa Catarina, criou-se o projeto “A cultura da Renda de Bilro em Florianópolis: resgate histórico-geográfico”, sob coordenação do prof. José Messias Bastos, do departamento de Geociências (CFH/UFSC), e do doutorando Edson de Morais Machado (PPGGeo/UFSC). O projeto tem ainda o apoio do bolsista João Vitor Sandri, graduando do Curso de Geografia da UFSC.
O projeto tem como objetivo realizar um resgate histórico-geográfico da atividade cultural da renda de bilro em Florianópolis, buscando preserva sua memória e evidenciar seu papel singular na formação da referida região. Assim, tendo como ciência base a geografia, caracterizada por ser uma ciência social, cujo objetivo é estudar a sociedade, sendo ela espacial, o objetivo deste projeto será apresentar uma abordagem sobre a trajetória e a consequente formação social e espacial do território na qual se desenvolveu a referida atividade, buscando descrever os fatores econômicos, sociais e naturais que influenciaram a prática e a permanência de renda de bilro nos diferentes momentos históricos da capital catarinense até os dias de hoje.
____________________________________ Breve introdução à proposta_____________________________________
A formação socioespacial do sul do Brasil ocorreu de forma diferenciada desde que o território brasileiro era dividido em Capitanias Hereditárias. A divisão do país em grandes latifúndios tinha como objetivo o abastecimento do mercado europeu, porém o clima temperado do sul possibilitava apenas a produção da diversidade e quantidade dos produtos que eram produzidos nas regiões temperadas da Europa, portanto a região não atraia muito interesse econômico para a exploração, incluindo Florianópolis.
Os primeiros séculos de ocupação europeia no continente latino, ficou marcado pela disputa entre Espanha e Portugal. Neste meio, Florianópolis destaca-se por ser um território estratégico, servindo como entreposto para o abastecimento de tropas em caso de guerra. Buscando proteger o referido território, foi realizada a construção de fortes e o aumento da população no entorno complementava a estratégia. Tal necessidade teve como consequência um considerável fluxo migratório para esta parte do Brasil, com aproximadamente seis mil imigrantes vindos do Arquipélago do Açores, (1.500 km de Lisboa), fluxo que permaneceu durante oito anos.
Os imigrantes açorianos, que em Florianópolis se instalaram, trouxeram consigo práticas e costumes, como a utilização de redes de arrasto e a tarrafa para a pesca, juntamente com a dedicação a cultura de subsistência e confecção de artesanatos para as mulheres. Chegou a produzir considerável produção de farinha de mandioca, onde seu excedente era comercializado com a Coroa Portuguesa.
Enquanto dedicava-se à pesca os homens, as mulheres dedicavam-se à pratica da Renda de Bilro. Durante séculos a renda de Bilro fez parte do complemento do orçamento familiar e também foi utilizada para troca por itens de maior necessidade. A prática da Renda de Bilro, segundo alguns pesquisadores, surgiu na Bélgica, espalhou-se por alguns países da Europa, até ser incorporada no Arquipélago dos Açores e posteriormente na ilha de Santa Catarina.
A Renda de Bilro
O fato de que a rendeira era dona dos meios de produção e em algumas das vezes até responsável pela produção dos próprios instrumentos, possibilitou que a prática fosse passada a outros membros da família, principalmente as meninas.
Mais tardar, com ascensão impulsionada pelo turismo, surge a necessidade de estabelecer pontos de comercialização como a Avenida das Rendeiras, entretanto as oportunidades de emprego mais rentáveis geradas pelo turismo na ilha vieram posteriormente a atrair as mulheres que antes se dedicavam a arte, causando assim a redução da atividade. Com o passar do tempo as mulheres que já haviam ingressado na prática passaram a incentivar as filhas a empregar mais tempo dedicando-se aos estudos do que na confecção da renda, o que explica atualmente o grupo de rendeiras ser composto por idosas e com escolaridade mais baixa do que suas filhas. Hoje em dia também fazem parte do grupo mulheres aposentadas que vêem na renda uma forma de lazer.
Enquanto praticam o artesanato, as mulheres cantarolam canções que contam histórias, essas denominadas Ratoeiras.